Arte

Obra e Foto Mauro 2007


A arte se constrói no conflito entre o ‘eu’ e o ‘outro’, porque é feita em relação ao mundo: primeiro para si e, então, para o outro. Sua condição de existência é que o mundo a veja. Sua estética se relaciona com o observador e com o espaço. Com o espaço, não apenas com a paisagem. Tal como diferencia Milton Santos:

“A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço são essas formas, mais a vida que as anima [...] Cada paisagem se caracteriza por uma dada distribuição de formas-objetos, providas de um conteúdo técnico específico. Já o espaço resulta da intrusão da sociedade nessas formas-objetos. Por isso esses objetos não mudam de lugar, mas mudam de função, isto é, de significação, de valor sistêmico” (A Natureza do Espaço: técnica e tempo. São Paulo, 1997, p.83).

Essa perspectiva está presente no conjunto de ações e produções do Projeto, não somente por sustentar que a representação do espaço é necessariamente povoada, mas, também por explicitar que essa “intrusão” humana é carregada de valores.

Mural Alexandre Puga 2008

Os agentes marginais olham para a represa, para os bairros, para a cidade e se inspiram a expressar para seu meio aquilo que captam dos cotidianos diversos.

Entendo que se aprende arte convivendo com obras de arte, a proposta desenvolvida no Imargem, além de possibilitar a expressão dos artistas da região, propõe que crianças, jovens e adultos aprimorem seus olhares e, por meio da experimentação, exercitem outras possibilidades de dizer. Ao brincar com materiais de construção, como madeiras e tijolos, somados a tudo que se encontra nos quintais, terrenos e ruas, a imaginação molda peças construindo objetos e indaga o que quer ver em uma projeção dos momentos futuros.

Do entendimento que a arte, para além da expressão imediata, é um instrumento poderoso para o exercício do direito a comunicação da periferia com o centro, decorre o eixo convivência.