sexta-feira, 17 de maio de 2013

Zona sul recebe o 10° Encontro Niggaz de Graffiti e reúne artistas de todo o país


Nos próximos dias 25 e 26 de maio, o distrito do Grajaú, extremo sul da cidade, recebe pelo décimo ano seguido o Encontro Niggaz de Graffiti. Este ano o evento conta com o apoio do Projeto Color+City e da Escola Estadual Profª Clarina Amaral Gurgel.
Para participar o artista deve acessar a página do Encontro Niggaz no Facebook e deixar uma mensagem sobre a intensão de participar.

Para o encerramento do encontro será lançado o
vídeo-documentário "Com Vivências Marginais" e Mapa de Processos do Projeto Imargem. E uma apresentação da Banda Rap Enter, um projeto que reúne o improviso de Mc's e repentistas.

O Encontro Niggaz, que tem em seu nome a homenagem a um importante artista local, o então jovem Alexandre da Hora falecido em maio de 2003 aos 21 anos. O Niggaz um percussor do Graffiti no Grajaú, influenciou muitos artistas de sua geração, assim como de outros lugares da cidade, onde grafitou suas mais diversas obras.

Desde 2004 o encontro acontece anualmente no mês de maio em longos muros das comunidades do Grajaú, desde então o evento contou com aproximadamente 1600 artistas da cidade de São Paulo, com representações de grafiteiros de outros estados brasileiros e estrangeiros. Artistas reconhecidos internacionalmente, ou não, vem anualmente prestigiar um dos mais importantes encontros de Graffiti do país.

O Encontro Niggaz é uma iniciativa de jovens artistas da cidade de São Paulo, mais precisamente das comunidades do distrito do Grajaú, extremo sul da capital paulista, esses artistas atuam principalmente por meio da intervenção urbana, são profissionais conhecidos também como grafiteiros. Estabelecem uma relação fortíssima com a cidade e com seus respectivos bairros. Articulados através de um coletivo, os Agentes Marginais, desde 2007 com o Projeto Imargem, dialogam com a comunidade através de três eixos temáticos: arte, meio ambiente e convivência, trabalhando em suas intervenções a memória e a poesia para os muros cinza e espaços degradados da região a partir da margem da cidade.

Imargem
O Projeto Imargem é formado por artistas visuais, auto-denominados Agentes Marginais, e organiza intervenções multidisciplinares que, reunindo arte, meio ambiente e convivência, propõe um olhar cuidadoso às comunidades, para pensar e agir diante das potencialidades e problemáticas da nossa sociedade, da margem à centralidade da cidade.
As ações implementadas pelo Imargem visam ampliar os olhares e aguçar as sensibilidades de todos para o espaço urbano. Espaço entendido como a paisagem povoada.
Agentes Marginais é a denominação dada pelos artistas da margem; são os que atuam nas bordas de toda a cidade. O grupo do extremo sul da capital paulistana, mais especificamente originários do distrito do Grajaú, vem se articulando profissionalmente por meio de intervenções urbanas, ligada as áreas da Comunicação visual, Graffiti, Esculturas, Cenografia e Arte Educação.

Serviço:
10° Encontro Niggaz de Graffiti
Dias e horário:
25 e 26 de maio, a partir das 10h
Local: Avenida Dona Belmira Marin, altura do nº 5400 – Grajaú
Informações aos artistas: imargem.imagemdamargem@gmail.com


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Projeto Imargem no Pétala por Pétala - a vida inspira a arte no Sesc Intelagos


O Projeto Imargem participará nos dias 27 e 28 de abril do evento "Pétala por Pétala - a vida inspira a arte" no Sesc Interlagos, zona sul da cidade.
Os agentes irão promover oficinas de graffiti, exposição das obras do acervo do Imargem e um ateliê aberto. 



terça-feira, 9 de abril de 2013

NIGGAZ: AS DISTÂNCIAS INTRANSPONÍVEIS



Por Sérgio Franco

Falar do Niggaz sem cruzar a trajetória de artista com a biografia nos distancia de um dos maiores méritos de seu processo de criação: a conexão da vida com a obra. Ele sempre soube tirar o melhor partido da experiência que teve, projetando-a com toda potência na expressividade plástica. Gustave Flaubert, abordando este processo, também vai encorajar o pintor Ernest Feydeau a fazer uma pintura no leito de morte de sua esposa. Em uma carta vai dizer: “Você viu e vai ver belos quadros, e poderá fazer bons estudos. E pagá-los caro. Os burgueses mal desconfiam de que lhes servimos o nosso coração. A raça dos gladiadores não está morta: todo artista é um deles. Diverte o público com suas agonias.”[1]

O Niggaz por sua vez, não registrou a dor dos outros como foco de sua expressão, mas a própria, maquiada numa ficção. Recriou o mundo para ele fazer sentido, diminuindo o absurdo da existência para um jovem de periferia com um talento descomunal. A sua inadequação é para nós um índice de como se acolhe um jovem da periferia numa realidade distinta da sua origem.

Alexandre Luis da Hora Silva, Niggaz, faleceu aos 21 anos, em 29 de abril de 2003, nas águas da Represa Billings, antes disso deixou uma obra que marcou o seu tempo, o que havia de vida nele permanece entre nós. Para nós que não entendemos o que se passou para haver este destino trágico, fica a pergunta: como um jovem dotado de tais poderes mágicos de criatividade pudera ter encontrado morte prematura?

Niggaz no Beco Aprendiz

Objetivamente, jamais poderemos dar precisão para este desfecho, mas por sua trajetória podemos encontrar um sentido para sua obra. Por meio dela, emergem características importantes de uma vida na metrópole, vista e vivida por um sujeito oriundo da sua margem: Jardim Eliana (Grajaú – Zona Sul), na periferia da cidade, lugar onde cresceu. O graffiti surgiu para ele como instrumento de construção de um caminho para outras paragens, lugares distantes e cheios de barreiras, por onde seus amigos de bairro não se imaginavam antes dele. Niggaz ultrapassou obstáculos reais e simbólicos que levavam até o mundo da arte, e seus parceiros encontraram percursos possíveis com este estímulo.

A nave espacial que ele fez no beco da Rua Belmiro Braga (Vila Madalena) foi a síntese deste processo. A nave está a caminho de algum lugar imaginário, um outro mundo, para tanto é bem equipada para a viagem: cheia de dispositivos, botões, teclados de um computador central, monitores de controle, etc. Mas o comandante desta nave não a move por livre e espontânea vontade, nas suas costas há um homem com um revolver na mão, ameaçando-o enquanto ele observa um monitor na sua lateral. Ele também segura o manche e tecla nos equipamentos da nave, parece dominar um processo complexo para colocá-la na rota de sua viagem. Junto da cabine ele é auxiliado por uma mulher, a co-pilota de sua jornada. Não podemos saber o destino que perseguem, mas supomos, como num sequestro, que talvez não exista retorno.

Uma das principais características de Niggaz era ser romântico, amante do afeto, sempre disposto a dedicá-lo e carente em recebê-lo. As experiências sentimentais intensas sempre povoaram sua trajetória, recorrentemente aparecia com o desenho de uma mulher pela qual se apaixonara e os amigos apaixonavam-se por derivação, através de seu trabalho. A mulher ao seu lado na nave do painel do ‘Beco’ é o elemento que lhe dava estímulos para transpor as distâncias, que o acompanhava na viagem e lhe fornecia o afeto e a compreensão para diminuir as turbulências de sua vida, foi ela também que lhe trouxe uma das maiores desilusões.

Contudo, Niggaz é pioneiro, foi o primeiro grafiteiro que chegou à Vila Madalena vindo de uma origem social mais baixa, também o primeiro que fez estes grafiteiros de classe média circularem pela periferia. Quando então, além de reconhecerem as distâncias que ele ultrapassara, passaram a valorizar a sua disposição em transpô-las.



[1] G. Flaubert, carta a E. Feydeau, primeira quinzena de outubro de 1859. In: Correspondance, t. IV, p.340. 

terça-feira, 12 de março de 2013

São Paulo ganha presente de grafiteiro na Avenida Paulista




O agente marginal Alexandre Puga presenteou a cidade com um mural grafite. O mural é uma releitura da Avenida Paulista, com perspectiva para o Masp e Trianon. A produção começou em fevereiro e ficou pronto no começo de março. Mostrando no desenho aquilo que lhe é mais representativo, o povo trabalhador, sensível e que se une para um grito de gol, de reivindicações na Avenida Paulista.

A arte urbana vem crescendo em todos os cantos da Paulicéia, a arte que até pouco tempo era marginalizada e tinha como referência a periferia da cidade hoje vem tomando galerias e espaços de arte em todo o mundo.

Acompanhe a produção do mural na página do artista:

Alexandre Puga é um incansável pesquisador de técnicas modernas tanto na arte do Graffiti como na pintura, formou-se em artes visuais em 2008 e é hoje talento da nova geração de artistas contemporâneos. Iniciou seu contato com a arte a partir da pichação, onde escrevia seu primeiro nome do caminho da casa para a escola. Os homens e seus problemas é uma das suas grandes preocupações, seus personagens gritam algo o que ainda não foi dito, algo que precisa ser explicado, com muita personalidade no estilo e coragem na técnica fazem com que seus trabalhos sejam reconhecidos instantaneamente. O conceito, ritmo e textura, também são fortes características na obra desse artista genial.



    


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O agente Mauro apresenta obras produzidas durante o Projeto Cartograffiti na 2° Bienal Internacional Graffiti Fine Art


De 22 de janeiro a 18 de fevereiro o MuBE recebe a Bienal Internacional Graffiti Fine Art, em todos os espaços expositivos do museu. E o Projeto Cartograffiti participa através do agente marginal Mauro Neri da Silva.

O conjunto de obras apresentadas pelo agente Mauro traz a cena performática do artista, "É bem didatico, é interessante entender como é esse formato, rico em conceito e lúdico quando a minha imagem é explorada, quase que performática.", conta Mauro. Ele vai apresentar telas usadas no processo do Projeto Cartograffiti e vídeos que mostram os processos.

Projeto Cartograffiti
Cartograffiti é um projeto coordenado pelo Agente Marginal Mauro Sergio Neri da Silva. E tem o co-patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura, por meio do edital Arte na Cidade, consiste em uma série de intervenções em 21 locais estratégicos em um recorte especifico no mapa da cidade de São Paulo. A proposta uniu outros renomados artistas representantes da cena Street Art local para investigar e explicitar cartograficamente aspectos, estéticos e conceituais da megalópole paulistana, cidade referencia em arte urbana no mundo. As ações do Cartograffiti são organizadas e inspiradas no âmbito conceitual do projeto Imargem que organizadas nos eixos temáticos Arte, Meio Ambiente e Convivência leva em conta a paisagem local, as áreas de proteção ambiental como nos seus canais e reservatórios hídricos, o fluxo nos principais corredores viários e a mobilidade urbana.
2° Bienal Internacional Graffiti Fine Art
A Bienal Internacional Graffiti Fine Art, que teve sua primeira edição em 2010, também no MuBE, apresentou a história do graffiti no Brasil e no mundo, suas influências com diferentes movimentos artísticos do século XX, sua relevância na contemporaneidade e suas manifestações culturais e artísticas diretamente relacionadas à cultura urbana.“Este ano contamos com 50 artistas que vão apresentar obras coletivas e individuais, todas inéditas.
 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Imagem da Margem



Sérgio Franco
Co-curador da 7 Bienal de Berlin 2012

Artistas agrupam-se no Projeto Imargem, oriundos do distrito de Grajaú. Este território é também da área de Proteção Ambiental Bororé-Colônia – que abriga remanescentes de Mata Atlântica pressionados pelo crescimento populacional. Ali São Paulo começou, primeiro pela população Guarani que aqui estava antes dos europeus, depois pelas mãos de João Ramalho num aldeamento em Santo André onde fez um projeto de ocupação que integrou a cultura ancestral com seus rituais antropofágicos e a poligamia com a civilização portuguesa - para o desespero da moral da Igreja Católica. A qual não deixou por menos e refundou sua presença no planalto de Piratininga com o empreendimento Jesuítico.  Se a Semana de 22 fosse mais voltada para práticas além de conceitos, veria ali os primórdios da antropofagia que discutiram posteriormente ao João Ramalho – o primeiro dos antropófagos brasileiros, pai de toda uma geração de mestiços que vemos hoje.

Na perspectiva desta posição da cidade, se vê melhor! Pois dali uma convivência distinta e uma configuração cultural se instalaram para inventarem novos modos de ver a cidade. Livres de qualquer cânone artístico, os artistas puderam acolher todas as linguagens expressivas possíveis, e como moradores da região, foram criadores de novas representações figurativas para o espaço. O Imargem retoma exposições já vistas, como “The Street, Ways of Living Together” (1972) em Eindhoven na Holanda de Jean Leering, a qual examinava modos de convivência num laboratório que saia do museu e se estendia pelas ruas da cidade. Isso retira o ineditismo, porém o recoloca por uma escala nova, incomensurável para um holandês. Partindo deste desafio surge o Imargem e seus agentes marginais: tribos urbanas mais recentes (rappers, grafiteiros, sambistas, skaters, etc) e habitantes originais de tribos indígenas que ali ainda possuem um lugar.

Entre muitos agentes, alguns se destacam e marcam presença nesta exposição. André Bueno fez da fotografia seu suporte, para registrar e recompor a paisagem com um enquadramento sensível ao afeto, sempre disposto a encontrar a poética da sociabilidade extensa e intensa da comunidade. Alexandre Puga come letras e imagens e transcende seu alimento em pintura, sua fome é de convivência coletiva, provendo-se da fraternidade que encontra e reproduz em sua obra. Everaldo Costa é escultor, e como no mito de Pigmaleão confere vida por onde sua mão confere forma. Enivo acompanhou Niggaz em sua jornada para além dos limites de seu bairro, e com seus graffitis consolidou uma nova paisagem do espaço público com sua intervenção. Jerry Batista acompanhou estes desbravadores do Grajaú, amigo e companheiro inseparável sempre trouxe o afeto em pinturas sobre todos os suportes. Jonato faz dos equipamentos urbanos o mesmo que o movimento da Art Noveau, torna a arte  possível em qualquer lugar ou suporte, uma lixeira, as paredes e entradas de uma viela ou metrô. Helder Oliveira fez da pintura o primórdio e partiu para explorar a tridimensionalidade de seu trabalho. Mauro é um renascentista, nos afrescos que concede para as paredes da cidade, retoma a pintura mural como algo que nunca morreu nas possibilidades expressivas da urbe. Rodrigo Branco é um pintor da memória, do afeto paterno e da infância jamais perdida, porque revivida neste território. Ronaldo Costa traz o homem máquina, moto-perpétuo da vida ainda que inumana, seu robô ganha cor e com ela a Natureza que talvez não lhe pertença. Thiago Goms apresenta um expressionismo zoomorfista, como os ancestrais da terra atribui formas animais para as divindades, aqui homens com atributos da Natureza. Wellington Neri é um compositor da cor e da letra, sempre harmonizando o caligráfico e o plástico em obras coletivas.

No contraponto com a Natureza, aqui numa região limítrofe com a urbanização caótica e sem planejamento, constituiu-se uma visão ímpar, sem parcialidade porque se irradia pelos outros pólos e póros da metrópole. Agentes marginais, apenas por virem da borda, pois seus dilemas periféricos são questões centrais, permeáveis pela água que os cerca, e vinda dali, chega em boa parte das casas da cidade.

Os acontecimentos, num contexto de deslocamento do sistema da arte, podem vir de um lugar qualquer, como foi com o Impressionismo, que retirou os artistas do ateliê e os levou para a banlieu (uma periferia para o lazer pequeno burguês) e os rios que margeiam a capital francesa, justamente para verem melhor as contingências da luz na pintura. Estar na margem foi importante para abdicar dos padrões hegemônicos vigentes, e o artista sabe como ninguém aproveitar desta liberdade.

Estes agentes do denominado Grajaú, também fizeram um deslocamento e uma abordagem nova nas intervenções urbanas, foram capazes de uma cartografia generalizada das novas simbologias impregnadas na paisagem de São Paulo. Sempre pedindo para ver a cidade em sua abrangência e contradição. Entre uma riqueza exuberante e uma miséria acachapante, onde vemos a unidade do sistema nas lutas instaladas na metrópole.

Todavia, estas lutas possuem armas próprias, poéticas visuais ou sonoras, violentamente pacíficas, desviando do conflito físico para leva-las ao âmbito conceitual. São novos comportamentos, num bairro em contexto mortífero. Ele, são capazes de desfazer distinções entre o centro e a periferia, para mostrar o problema como partilhado por todos aqueles que habitam a metrópole. Focados na potência em vez da fraqueza, apelam para a construção de uma esfera pública na sociedade. Angariando parceiros de bairros mais prósperos, entre artistas e cidadãos, consolidam o que almejam: o Direito à Cidade num debate sobre o que queremos para nossos espaços públicos.

Abertura da Exposição "Há Gente"


No último dia 30 de novembro a Casa do Rosário, Parelheiros, abriu a exposição "Há Gente" com os agentes marginais André Bueno, Alexandre Puga, Vinicius Enivo, Everaldo Costa, Helder Holiveira, Jerry Batista, Jonato, Mauro Neri, Ronaldo, Rodrigo Branco, Thiago Goms e Wellington Neri. 

A Casa recebeu amigos, novos amigos, pessoas que não conheciam a região e agentes locais que fomentam a cultura e a relação entre os coletivos.


A exposição mostra a importância das contribuições deste coletivo para cultura da cidade e continuar sendo, através das suas obras, referência para jovens artistas da periferia. Formando mais artistas “filhos da periferia”, fazendo parte dos processos de transformação da sociedade.

Outro ponto forte da noite foi a exibição do curta "Bailão" do diretor Marcelo Caetano, que curiosamente e conscientemente está na região gravando um documentário sobre o bairro do Marcilac. Depois do curta rolou um super debate com o diretor e o guarani Olívio, da aldeia Krukutu.


Foi realmente uma noite especial e ímpar.


Não esqueça, a exposição "Há Gente" fica na Casa do Rosário até dia 16 de fevereiro de 2013, de quarta a domingo, das 11h às 17h, não perde, tá lindo.


Espia as fotos da montagem e da vernissage!